Tem um termo televisivo chamado “Bottle Episode” que em um resumo chulo são episódios (quase sempre de sitcons) feitos em um único espaço para que o orçamento seja reduzido a uma temporada, na perspectiva de que tudo caiba no orçamento previsto. Essa situação caiu em desuso, principalmente pelo “desafio de criação” em que os roteiristas das séries de viam e agora em virtude da pandemia essas questões se voltaram mais para um controle de produção do que qualquer outra coisa.
“Passageiro Acidental” é um objeto de estudo dessa forma de se fazer conteúdo audiovisual. Mas por estar dentro do gênero de ficção cientifica onde todos os filmes (pelo menos em sua cerne) são de enclausuramento, o filme acaba se destacando por não ir no caminho de seus irmãos.
Não tem como negar que o seu começo parece que estamos diante de mais um filme sobre uma missão espacial que vai abraçar com gosto a “lei de Murphy”. Até que acontece, mas o filme se mostra muito mais que isso quando saímos das questões primárias que são abordadas no primeiro ato e enfim nos encontramos com o que queremos ver em ficções cientificas: a filosofia da existência o individuo junto com a contradição de estarmos em um local onde as leis e morais coletivas não parecem ser tão importantes que em terra firme.
Toda a claustrofobia de estar em um local como uma nave espacial é colocado em cena aqui. A câmera do brasileiro, Joe Penna parece está ciente de que mesmo você estando na vastidão do universo, você está só no vácuo silencioso e até quando estamos fora da nave a tensão claustrofóbica tanto do traje quanto da visão dos astronautas é posta em tela.
Os planos espaciais não são deslumbrantes, são angustiantes. E o desenrolar da trama, que antes parecia rasa e superficial, intensifica tudo que a “mise en scene” parece está querendo causar no telespectador.
E por mais que o final pareça previsível, em nenhum momento soa gratuito e desnecessário, o famoso caso do clichê bem feito e bem colocado que não mexe com ninguém e só tem a acrescentar.
Pode ser que esteja exagerando ou alguns vejam esse filme como mediano por estar sendo reproduzido na mídia pequena (pelo menos em tela) do streaming. Mas é o que temos no momento, e se for isso que teremos por muito tempo pelo menos estaremos enclausurados e bem servidos.
Classificação:
Veja outras críticas nossas, de produções da Netflix:
O longa, “Passageiro Acidental” é estrelado por Anna Kendrick e encontra-se disponível exclusivamente pela Netflix.