Precisamos falar sobre regras. É um saco, eu sei, mas é preciso ter ordem até mesmo na algazarra. Não se constrói caos sem uma ordem estabelecida para que se possa deturpar. Caos sem compreensão das regras não é caos (no significado preciso e forte que essa palavra tem), é simplesmente bagunça cansativa.
Filmes baseados em fatos (não precisam ser reais porque além do pleonasmo nada que está na tela é realmente real) mesmo sendo objetos de uso há tanto tempo precisam seguir regras para se estabelecerem dentro de onde estão inseridos e com isso conseguirem linkar todos os códigos do gênero dentro do imaginário coletivo do telespectador.
Porém é sempre de bom tom lembrar que a realidade nunca vai ser uma verdade absoluta e até mesmo as alegorias que se abraçam em verdade estão carregadas de mentiras.
Filhos do Ódio se vende como real mas é uma verdadeira aula de como criar e alimentar uma mentira. Acompanhamos a saga do imaculado Bob Zellner para dar voz e ser o salvador (branco) do povo preto do sul dos Estados Unidos durante o período das leis de Jim Crow.
Estamos diante de um filme que tropeça a todo momento em sua narrativa e que não está ciente (ou se importando) das regras básicas que precisa seguir para que uma história seja compreendida e absorvida pelo seu público. E não estou falando de cortes bruscos ou escolhas duvidosas de direção (tudo isso presente em cheio aqui), mas de personagens que se teleportam de um cômodo de uma casa para o cômodo de outra casa sem nem ao menos ter uma transição de câmera ou de roteiro para que se torne compreensível e – o mais vergonhoso – personagens que mudam de motivação e se contradizem poucas cenas após se firmarem de alguma forma na trama.
Esse segundo ponto é preocupante porque se trata de um filme que a todo momento está colocando em voga questões morais e de conduta individual e como isso afeta o coletivo. E um filme sobre racismo que não consegue fazer com que seus personagens tenham uma coerência de pensamento é um tanto duvidoso.
Aí entram as questões que um filme sobre questões raciais sempre vai ter que enfrentar…
Mas eu que não vou gastar meu tempo chutando cachorro morto e jogando mais terra em algo que já nasceu pronto para ser enterrado. Coragem é o que define quem quiser se aventurar aqui nesse filme.
Eu passo.