Sweet Tooth – 1º temporada (2021) | Crítica
Adaptar algo dos quadrinhos para as telonas ou telinhas não é um dos trabalhos mais fáceis, principalmente quando o tema encontra-se ‘fora do comum’. A série da Netflix, ‘Sweet Tooth’ é uma dessas adaptações. Sob o selo DC Comics, o programa traz as consequências num mundo assolado por um ‘flagelo’, um vírus mortal que dizimou quase 90% da humanidade, derrubando governos, instaurando o caos absoluto, além, é claro, de deixar uma marca no mínimo inusitada, híbridos – seres metade humanos, metade animais. A história parece ‘estranha’ e até descompensada, todavia o produto é genuíno. Por isso vale essa conversa, esse texto… Simbora!
Equilibrado em seus oitos e ótimos episódios, ‘Sweet Tooth’ sabe explorar bem a fantasia em meio a nossa própria humanidade, dialogando com todo tipo de sentimento, numa harmônica sinestesia. Configurando, portanto, a alegoria proposta por Jeff Lemire em algo extremamente coerente, apesar de absurdo. À começar pela abordagem dos híbridos [que aqui pode ser entendido como raça, etnia, sexualidade, religião ou qualquer coisa do tipo] até a perspectiva pós-apocalíptica sobre a ação antrópica ao meio [algo que certamente The Walking Dead começou, mas não terminou bem]. Logo, é fácil compreender que o programa da DC Entertainment é soberbo, minimalista, coeso e reflexivo, proporcionando uma tempestade cognitiva interessante ao espectador.
Gus (Christian Convery) é um híbrido – metade garoto, metade cervo – que vive isoladamente num parque ambiental americano com o pai, Pubba (Will Forte) até os ‘primeiros homens’ [grupo paramilitar] os encontrarem e os atacarem. E infelizmente, o garoto será o único sobrevivente nessa ação criminosa. Em meio a toda essa dor, o jovem terá uma grata surpresa: Tommy Jepperd (Nonso Anozie), o acompanhará numa jornada frenética e emocional pela sobrevivência, e sim, pela mãe do garoto.
A qualidade textual é assombrosa, além da fidelidade ao material original, a narrativa impressiona, mesmo quando Convery não está em tela. As histórias secundárias não apenas servem de apoio, mas ajudam a construir o corpo principal. Os personagens satélites, por exemplo, tem um importância significativa para trama: o vilão – General Abbot (Neil Sandilands) -, o médico Aditya Singh (Adeel Akhtar), Ursa (Stefania Owen) e Aimee (Dania Ramirez). E quando o texto é bom, amigos, as estrelas se sobressaem.
A fórmula de ‘Sweet Tooth’ é clara, mesclar ‘terror’ e ‘fofura’ na mesma linha cognitiva, seja através de discursos, gestos ou ambientes [designer de produção] e tudo isso, funcionando na mesma medida – um verdadeiro suspiro do cinema transformado em seriado.
Bem conduzido e de uma estética ‘linda’, o programa Netflix certamente arrancará elogios e palpitações do público. Afinal, quando se pensa num projeto como esse, atento aos detalhes, as pontas, aos vários núcleos se interligando, condensando entretenimento à sentimentos, o resultado não poderia ser diferente. ‘Sweet Tooth’ é sem dúvidas o melhor programa do streaming nesse estranho ano.
Classificação:
A primeira temporada da série ‘Sweet Tooth’, da DC Entertainment, encontra-se exclusivamente na Netflix.