Marighella (2019) | Crítica
Difícil dizer se existe uma coerência nos pensamentos políticos diante de situações que a todo momento desafiam nossa percepção de realidade e justiça. O cinema como objeto de arbitrariedade é algo que está longe de ser novidade, mas parece borbulhar como nunca no momento tão incisivo e quando estamos com vários sentimentos à flor da pele.
O que aconteceu (e por alguma razão ainda acontece) com “Marighella” é um verdadeiro pré-conceito generalizado. Porque se escolhe ter uma percepção de algo que nunca se viu só porque ele atinge de alguma forma suas ideologias políticas e sua percepção de vida.
Wagner Moura sabia onde estava se metendo quando decidiu dirigir o filme sobre o maior símbolo político da luta contra a ditadura militar de 64 do Brasil. E essa noção faz com (ou talvez obrigue) que sua direção seja precisa no que quer dizer e no que quer mostrar. O que temos aqui é um verdadeiro thriller político que a todo momento parece estar homenageando o cinema noir, mas com aspectos de um cinema inventivo que remete diretamente aos cineastas undergrounds brasileiros.
Seja por planos-sequencia criativos até uma câmera que faz com que o telespectador se sinta parte da ação, não existe aqui a política que se sobressai ao cinema, e sim um cinema que se utiliza de todas as ferramentas para se tornar grande e fazer com que seu discurso seja potente e direto.
E o que anda acontecendo com o filme (ataque de grupos extremistas) acaba servindo como um ótimo paralelo ao que aconteceu com o próprio Marighella em vida. O excesso de atenção acaba levando a informação a um maior número de pessoas que se não fosse pela polêmica nem saberiam da existência do filme. Mas pelo menos isso fará que as pessoas vejam um bom filme brasileiro, que acima de político é cinema. Cinema dos bons.
Classificação:
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