Mastigando “Zankyou no Terror” | Artigo
Por ser uma estética e cultura diferente do que fui habituado a consumir, confesso que tive certa dificuldade em consumir com certa naturalidade as artes da cultura asiática. Essa barreira foi se quebrando quando me tornei cinéfilo em essência e me aventurei no cinema asiático em suas diversas vertentes (do clássico cinema japonês de Ozu até o intenso cinema de fluxo de Weerasethakul).
O curioso disso tudo é que por mais que essa cultura asiática só tenha se tornado algo latente e perceptível quando alcancei a tenra idade, desde sempre fui (e acredito que todos da minha geração 00) acostumado a consumir séries animadas asiáticas. E entre essas séries está a que sempre tive a percepção de ser a maior de todas: Cowboy Bebop.
E não, não falarei do clássico de Shinichiro Watanabe aqui, mas é inevitável falar do que eu vou falar sem antes citar essa obra divisora de águas na animação mundial. A percepção de Cowboy Bebop sempre me foi o que todos os animes sempre carregaram em sua narrativa: uma questão de gato e rato. E essa lógica chega a ser curiosa pois não sei muito bem explicar o que faz com que tantas obras notáveis tenham o mesmo plot.
Zankyou no Terror – a grande protagonista do meu texto – é um belo e peculiar exemplo desse tipo de cinema/série onde a dinâmica principal pode ser resumida pela perseguição implacável entre os protagonistas. O que em mãos erradas se tornaria um mais do mesmo, é um tanto divertido perceber como além de brincar a todo momento com a noção de perspectiva – com uma narrativa que mesmo com um tom sóbrio é bem consciente da farofa que está inserido – também estamos diante de um anime que não carrega tantas pretensões como muito se espera que ele possa ter.
As obras de Watanabe possuem um niilismo palpável. Seja pelos personagens ou pelas tramas, estamos em confronto constante com uma perspectiva de futuro que não é muito solar e até mesmo desolador em vários aspectos. E diferente de suas obras anteriores, em Zankyou no Terror o passado não é modificado em contrapartida com o futuro, estamos diante de tempos feitos em coerência com nossa realidade.
Os problemas de tantas camadas é quando os arquétipos tentam ser subvertidos como se eles precisassem disso para ter alguma relevância. O encanto inicial vai se dissolvendo com a necessidade do roteiro de colocar complexidade onde o simples resolveria e não seria em nenhum momento algo pejorativo ou diminutivo.
A diferença aqui de todas as outras (excessivas) tramas gato e rato é como não existe uma muleta do Deus Ex-machina para estragar tudo. E isso se torna um diferencial quando o final nos entrega um desfecho agridoce mas que em nenhum momento se desloca do que foi proposto logo no início.
Um anime atípico para o que o seu criador conseguiu propor e entregar em suas outras obras, mas um ótimo exercício de clareza das ideias e como é fácil entregar muito sem existir absurdos mirabolantes. Talvez eu vá esquecer o que vi, mas pelo menos consegui finalizar esse texto. Tá de bom tamanho.
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Este anime, pode ser encontrado na plataforma de streaming Netflix.