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Stranger Things 4 (2022) | Crítica

Toda e qualquer narrativa textual deve se comportar como o ciclo natural da vida. Uma hora ela nascerá, amadurecerá e, certamente, morrerá. A série original Netflix, “Stranger Things” está atravessando a parte baixa da evolução, encaminhando-se a passos largos para o final e não é só por que os criadores afirmaram que o programa se encerraria na quinta temporada, mas os sinais de desgaste são evidentes, assim como a relação entre o mundo invertido e o nosso. Os Irmãos Duffer resolveram os vários problemas em abordar os personagens do programa, dando mais perspectiva e profundidade, no entanto, se perderam na trama principal. O que coloca este novo ano no calabouço escuro do “meio termo”.

De fato, os textos de “Stranger Things 4” ficaram melhores, mais robustos. O roteiro dessa nova jornada foi mais delicioso de acompanhar, apesar de naturalmente haver exceções. Porém, quando observamos de cima do muro, muito pouco evoluiu. Organicamente, a “equipe Onze” está na mesma encruzilhada existencial dos anos anteriores. Se não fosse pelos “estirões” dos meninos, não veríamos mudanças significativas no atual momento. Preste bem atenção na leitura: – “Existe um mal incomensurável os aguardando lá fora, mas não sabemos ainda o que é”. Essa penumbra cerca os jovens há muito tempo, e daí não sai. Esperava-se que a chegada de Vecna respondesse parte, ou o todo, dessa narrativa, mas não foi bem isso que vimos.

Essa brincadeira de morder o próprio rabo só não fica pior pelos personagens. Tudo bem que o arco da Rússia, no frigir dos ovos, foi desnecessário, porém os meninos demonstraram sobriedade e coração no todo. Com destaques a dupla Steve Harrington (Joe Kerry) e Robin Buckley (Maya Hawke), e, claro, façamos menções honrosas à Max Mayfield (Sadie Sink) e Will Byers (Noah Schnapp). Quanto à Millie Bobby Brown, a jovem e promissora atriz, concebeu a sua personagens sob uma égide de atropelos e exageros, mas nada que lhe tire o brilho.

Por outro lado, se tivemos problemas com o roteiro, houve, apenas, pequenos equívocos na direção. Os nove episódios de “Stranger Things 4” foram ligeiramente bem dirigidos pelos vários cineastas integrantes. Os cortes, a edição e a fotografia da série foram bem trabalhados. O vermelho do filme contrastou bem as cenas mais escuras, impactando de maneira positiva o espectador comum. No quesito “cinema”, esse novo ano foi extremamente feliz em seu gênero primordial, o terror – que pulava a tela. Ou seja, foi demonstrado uma evolução significativa nos quesitos técnicos do programa Netflix, inclusive no som e edição de som.

E nesse desequilibrado enredo, “Stranger Things 4” fecha o ano com uma estrela menos quando comparado aos anteriores. É perceptível a falta de coragem nos textos, e como recicla-se algumas de suas ideias na trama. Os Irmãos Duffer precisam ser mais assertivos para a nova temporada – que segue sem previsão. E isso não quer dizer mais tempo, pelo contrário, talvez mais concisos, pontuais. Além de fechar os arcos, os cineastas devem encontrar a maneira ideal de propor e executar os planos, mesmo que existam perdas pelo caminho. Talvez, se eles buscarem os ajustes necessários, o programa voltará para os ‘trilhos’ e quem sabe, até para um momento ainda melhor.

Em suma, “Stranger Things 4” foi um emaranhado de boas ideias e ótimas possibilidades, que não se conectaram, deixando um gosto meio ‘insosso’ em seu final quase previsível.

Classificação:

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Além da nova temporada de “Stranger Things”, as outras três são de fácil acesso, basta acompanhar pela Netflix.

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante (...) Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

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