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The Boys – 3ª temporada (2022) | Crítica

O tempo é um dos fatores de desaparecimento do produto, seja ele orgânico ou não. No entanto, o intangível permanece, as ideias permanecem. A religião é uma pequena amostra de como os argumentos não se perdem pelo caminho, podem até sofrer algum tipo de transformação duvidosa, questionável, mas a essência está ali, arraigado no “DNA”.

“The Boys”, da Sony Pictures Television, trilha o mesmo percurso como produção para TV/Cinema. A maneira como é conduzido os discursos são até diferentes quando comparados a primeira temporada, aliás a série passa por uma reinvenção deliciosa, mas o sentimento libertador está presente. Eric Kripke – showrunner do programa – não se envergonha das ideias e da leitura das coisas em “The Boys”, apenas, reabastece os seus argumentos com os nossos tristes noticiários que escancaram o ‘terror’, demonstrando que o mundo dos super não é tão diferente do nosso.

A terceira temporada de “The Boys” escolhe temas pontuais, mas não menos importantes, para lembra-nos de que o neofascismo não morreu. Mais e mais pessoas no mundo optam em perder a liberdade baseados em crenças abjetas, racismo e a hipocrisia de toga [parafraseando as Sagradas Escrituras, “Cuidem para tirar a trave dos olhos”]. Kripke não esconde seus argumentos em meio a capas e bandeiras tremulando. Com muita sensatez, o cineasta faz da sátira, uma figura de linguagem poderosa contra os desmandos e comportamentos mais que inadequados em nossa sociedade [nunca me senti no período barroco, como agora – O Boca do Inferno fez escola]. A escolha de Billy Bruto (Karl Urban) como o controverso símbolo de luta é a deixa para ignorância em que nos metemos, quando colocamos, o Capitão Pátria, do brilhante Antony Starr, como deus.

Observando essa nova jornada, Eric deu andamento a história principal e suas múltiplas nuances – o que é louvável – porém, o diretor identificou que para se evoluir como gostaria, era necessário dar alguns passos para trás. Os flashback’s assertivos deixaram o futuro de “The Boys” bem encaminhado. Ele não apenas deu justificativas plausíveis como alimentou o público com informações essenciais para se compreender ainda mais o universo. E o astro Jensen Ackles – Soldier Boy – foi essencial para isso. Kripke, também, nos faz enxergar que o sistema corporativo, econômico e politico se nutrem do pior de nós. E isso é proposital. A humanidade precisa está separada para ser conquistada.

Outro elemento crucial para o programa transmitido pela Prime Video é a convicção do processo. O showrunner é extremamente consciente de suas ações, podendo sofrer até alguns apagões, mas logo volta a ‘normalidade’ literária. Ele se conhece tão bem que não deixa a cafonice fora do baralho e a usa como esteio desse pitoresco sofismo. Se pudéssemos resumir o que essa terceira temporada de “The Boys” foi de especial teríamos que revistar o episódio de número 6, a famigerada “SuperSuruba”. Kripke usou o cenário ‘alternativo’ para demonstrar força e ao mesmo tempo leveza, no controle do próprio programa.

No entanto, nem só de boas ideias vive uma produção. “The Boys” encontrou em seu elenco a melhor das pérolas. E é por isso que tem dado sinais de “grande sucesso”. Falar do dual Billy sem mencionar o quanto Urban desfila entre o tosco e o genuíno facilmente seria um ‘crime capital’. Starr, cada vez mais, tem se mostrado confortável frente à Pátria. Todas as vezes que é acionado, ele rouba a cena, e não é apenas por ser o vilão, mas pela atuação ‘fora da caixinha’. Jack Quaid, o Hughie Campbell, continua o coração dramático dessa epopeia heroica. Porém, essa temporada ganhou contornos ainda mais interessantes com a simples e fustigada Kimiko, de Karen Fukuhara – sem falar absolutamente nada, seus diálogos com o Francês, de Tomer Kapon, foram perfeitos.

“The Boys” se reinventou na própria temporada. E foi para melhor. Eric Kripke e estafe demonstraram clareza em suas ideias e propostas, levando o publico e personagens por um caminho ligeiramente interessante. Contudo, já é visto o final desse túnel. A nova jornada deu o ânimo necessário para se continuar a andar e ver a queda do imparável Capitão Pátria, apesar de crer que o maior problema é alguns integrantes de nossa sociedade achar tudo isso ‘aceitável’, justo, como foi nos minutos finais do programa.

Classificação:

Leia também, outras críticas nossas:

As três temporadas de “The Boys”, da Sony Pictures Television, estão disponíveis no Amazon Prime Video.

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante (...) Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

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