Rian Johnson alcançou a notoriedade quando dirigiu um dos filmes mais controversos da franquia Star Wars, o famigerado Os Últimos Jedi, também conhecido como o episódio 8. Após isso, o cineasta resolveu apostar em uma trama de mistério, foi aí que a obra Entre Facas e Segredos surgiu. Homenageando e bebendo muito de Agatha Christie, o filme foi um grande sucesso de público e crítica, possibilitando o início de uma franquia popular e lucrativa.
Nessa continuação, o milionário Miles Bron (Edward Norton) convida seus amigos mais próximos para uma festa particular em sua ilha isolada da civilização. Nessa confraternização, os convidados são convocados a jogar o jogo detetive, onde eles terão que adivinhar o seu próprio assassinato. Para a sua surpresa, o detetive Benoit Blanc (Daniel Craig) também aparece no encontro. Apesar da brincadeira, um assassinato real acaba acontecendo, revelando mais um mistério para Blanc resolver.
Mesmo que não seja uma continuação direta, a obra mantém o mesmo protagonista em um novo cenário e novos personagens. Em virtude disso, os filmes acabam sendo independentes entre si, com o elo de ligação apenas o protagonista. Diferente do anterior, Rian Johnson traz uma obra com uma pegada mais contemporânea e hiperbólica visualmente já que o primeiro tinhas raízes mais classicistas e esse aqui promove uma atmosfera mais calorosa.
Essa decisão impacta diretamente na parte técnica, com uma fotografia sofisticada e detalhista ao criar composições belíssimas de planos. Os figurinos ressaltam as características e peculiaridades de cada personagem, criando aspectos únicos para eles. A direção de arte aposta em evidenciar muitos objetos de cena, para ajudar a montar um ambiente de desconfiança.
Todo o teor satírico da obra está entranhado em vários aspectos do roteiro. Os diálogos são ácidos e irônicos, brincando com o exagero das situações e interações. No fundo, o filme é sobre aparências e jogo de favores, mostrando a alta sociedade e como ela funciona, isso gera debates muito interessantes sob muitas óticas e análises. De uma certa forma, até traz um clima novelesco já que a ideia de satirizar esses elementos permite essa liberdade.
Em suma, o filme trata de hipocrisia e relações superficiais, baseada no benefício mútuo e de certa forma uma crítica à superficialidade da sociedade atual. Os comentários são precisos e caricaturais e o humor sagaz salienta essas características. Por mais absurdo que seja, ele conversa com a atualidade e ainda aprofundo mostrando cada personagem representando uma forma de poder.
Para Rian Johnson, o mais importante é o desenvolvimento do mistério do que propriamente a revelação final. Ele gosta de estabelecer aquela trama e aqueles personagens naquele espaço, prezando a química do elenco. Isso causa mais investimento emocional e também promove momentos mais genuínos de diversão e reviravoltas interessantes. Conscientemente, Rian brinca até com as convenções do gênero, com a previsibilidade de certas situações.
Em conciliação, a direção é afiada e manipulativa, criando um clima de intriga e suspeita intrigante, sem falar que ela enaltece o tempo de tela dos personagens, permitindo o elenco de ter os seus momentos de destaque. Além disso, a montagem é estruturada em formato de reconstituição de cenas, que pode acabar se tornando repetitivas, porém deixa a trama mais instigante.
Falando do elenco, a escolha dos atores foi muito bem assertiva. Todos se divertem com o tom caricatural de seus personagens. Daniel Craig continua a vontade como o protagonista, voltando com a sua personalidade incisiva e jocosa. Janelle Monaé é outro destaque louvável do filme, a atriz passa muita veracidade e tem uma presença muito forte em cena. Edward Norton abraça as excentricidades de seu personagem e oferece uma atuação agradavelmente burlesca.
Os demais nomes do elenco complementam essa sinergia fabulosa, com Kate Hudson, Dave Bautista, Leslie Odom Jr e Kathryn Hahn com performances mais coadjuvantes, porém não menos impactantes. Além de ter um elenco incrível, o filme explora bem o talento de cada um, conciliando a favor da narrativa.
Infelizmente o filme derrapa um pouco em sua conclusão, se tornando demasiadamente exagerada e longa demais. Ela excede um pouco demais, tornando o ato final redundante e sem um impacto maior. Ainda assim, rende momentos hilários.
Glass Onion é literalmente o que o nome diz, uma “Cebola de Vidro”, repleto de camadas, de críticas sociais, de diversão, de humor ácido, de uma boa dose de mistério e o vidro salienta toda a fragilidade e superficialidade das relações humanas. Rian mais uma vez contou uma história inteligente e envolvente que dialoga com o contemporâneo, mas jamais esquece as raízes clássicas do gênero.
Classificação:
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Dirigido por Rian Johnson (“Star Wars: Os Últimos Jedi”), o filme está disponível na Netflix.