De Frente com o Siri de hoje é com o quadrinista e design, Jaidelson Souza, autor de Conexão Terra, da revista Prismarte e Mediterrâneo, da revista Croquis, ambas, publicações da Pada – Produtora Artística de Desenhistas Associados. Quer saber um pouco mais sobre nosso convidado especial? Confira a entrevista.
SiriNerd – Fale-me um pouco sobre você;
Jaidelson Souza – Em primeiro lugar, obrigado pelo convite. É um prazer responder as perguntas, me sinto honrado. Me chamo Jaidelson Maurício de Souza, 53 anos, desenhista, quadrinista, ilustrador de decoração de eventos para Romildo Alves, Design Gráfico. Atualmente, estou treinando Concept Art e Blender 3D. Nasci em Recife, no ano de 1969. Comecei a desenhar bem cedo, ainda criança. Meu irmão mais velho, que já não está mais entre nós, percebeu meu gosto pelo desenho e me inscreveu no curso do Instituto Universal Brasileiro em 1980. A partir daí, fui vivenciando desenho todos os dias. Sempre fui autodidata. Aprendi com o treino diário inclusive o Design Gráfico, o qual trabalho a mais de 30 anos. Aprendi no dia a dia. Também já fui músico amador, tocando com meu irmão nas noites, mas era esporádico. Foi uma boa época. Mas hoje apenas me dedico aos desenhos.
SiriNerd – Como você começou a curtir e colecionar quadrinhos ?
Jaidelson Souza – Desde os meus 5 a 6 anos. Aprendi a ler com os gibis da Disney. E, nessa mesma época, gostava de copiar os desenhos. Os anos se passaram e eu curtia os quadrinhos cada vez mais. Comecei a conhecer os trabalhos da Era de Ouro dos super-heróis na década de 70, e, aos poucos, comecei a colecionar quadrinhos. Um dos primeiros artistas que conheci, em uma publicação da antiga Editora Ebal, foi José Garcia Lopez. O qual sou fã incondicional até hoje. Com o passar dos anos, conheci a arte dos grandes mestres John Buscema, John Romita Sr, Sal Buscema, Jack Kirby (o ícone), Neal Adams, Steve Ditko.
Depois vieram o Bill Sienkiewicz, John Romita Jr, Alan Davis, John Paul Leon (que sou grande fã também), Alex Ross e vários monstros da arte. Ainda na década de 80, tive contato com o quadrinho europeu com Moebius. Depois, conheci a arte de Syd Mead, Boris Vallejo, Juan Guimenez. A lista é grande. Todos, grandes expoentes em suas artes. Tenho várias obras desses artistas. Foi assim, aos poucos, conhecendo um a um, que comecei a colecionar quadrinhos.
Vocês vão ter uma ideia quando sair no encarte da edição de Conexão Terra, a quantidade dos personagens que criei.
SiriNerd – Como você começou a produzir suas próprias histórias? Você faz os roteiros, os desenhos, a arte final de suas histórias?
Jaidelson Souza – Sempre gostei de criar personagens e cenários. Vocês vão ter uma ideia quando sair no encarte da edição de Conexão Terra, a quantidade dos personagens que criei. Mas, quanto aos roteiros, isso depende muito. Na primeira edição de Conexão Terra, eu fiz a arte e arte final. Lancei a ideia e Marcos Marins colaborou para elaborar o roteiro. Gosto de fazer meus textos, mas nada impede de fazer desenhos com o roteiro de outra pessoa. Mediterrâneo é um exemplo disso. Na arte, eu gosto de fazer todo o processo, mas já fiz parcerias para fazer a arte final de outros artistas como Paulo Pires (que desenhou a capa de Conexão Terra, a nova versão), e André Gomes. Nossas artes dão certo e combinam. Parcerias que dão certo.
SiriNerd – Como surgiu a ideia de você integrar o Grupo Pada ? Você realizou outros projetos culturais antes? Quais?
Jaidelson Souza – Na década de 80, estudando no Liceu de Artes, conheci um integrante da Pada chamado Douglas Campelo. Ele viu meus desenhos e me apresentou ao grupo. Estava nos meus 16 anos. A partir daí, comecei a frequentar reuniões e conheci o grupo. Sou feliz em ter sido um dos participantes iniciais da criação da Pada. A gente costuma dizer, hoje, que os dinossauros voltaram. Kkkkkkkkkk Foi a partir dessa época, que comecei a fazer arte para o grupo. Antes não tinha feito nenhuma publicação. Quando a Pada foi lançada era um fanzine e, em 1987, lançamos a edição 1, impressa em offset, com Conexão terra. Depois, fiz alguns trabalhos para a Revista Croquis, de Andre Gomes e vários trabalhos que fiz estão sendo finalizados hoje em plataforma digital para serem lançados na Prismarte será comemorativa de Conexão Terra com a história revisada, refeita e preparada para se tornar uma minissérie. Agora com roteiro, e conteúdo com temáticas sérias. A primeira versão foi apenas para diversão, nada demais.
SiriNerd – Quais as suas principais histórias já publicadas e em quais revistas ? O que o público pode encontrar em suas histórias ?
Jaidelson Souza – A principal foi Conexão Terra na Prismarte, e depois foi Mediterrâneo na Croquis. O pessoal vai encontrar diversão. Algo para ler e se divertir. Nada de mensagens extraordinárias. Apenas pura diversão. Na época, eu fazia com foco no entretenimento e o prazer de contar uma história.
SiriNerd – O que você precisa fazer para produzir suas histórias ? O que acontece durante a produção ?
Jaidelson Souza – Muita pesquisa. Hoje em dia, principalmente. Antigamente, a gente, inclusive, eu mesmo, produzimos hqs pela paixão de desenvolver um enredo e desenhar. Éramos jovens com ideias florescendo ainda. Então, era divertido. Hoje, com o passar de décadas, eu vejo a produção de uma Hq, como a produção de um filme. Sempre achei quadrinhos parecidos com os Storyboards de um filme. A diferença é que com o filme vem a película e com Hqs vem o impresso com os balões. Então, eu faço como os diretores fazem. Desenvolvimento do roteiro, pesquisa, locações, mais pesquisa, desenvolvimento das personagens, cenário e, por fim, o material final. Sempre gostei de filmes e séries. Amo assistir making of. Assisto todo tipo de série, pois acho que em cada uma, temos o que aprender em matéria de iluminação, enquadramento de cena, tabela de cores e, principalmente, de como a história é contada. Tenho aprendido muito nessas décadas que fiquei afastado do grupo. O afastamento foi devido a casamento, trabalho e várias coisas da vida. Mas nunca deixei de rabiscar coisas e idéias. Agora, posso aplicar nos meus trabalhos, tudo o que venho aprendendo, assistindo todas as séries e filmes. Realmente, é uma escola à nossa disposição. Me sinto muito mais preparado em fazer um bom trabalho, hoje em dia.
SiriNerd – Você aceita patrocinadores e anunciantes em suas publicações ? Como uma empresa interessada pode colaborar com o projeto ?
Jaidelson Souza – Sim. Eu posso falar em nome da Pada. Sempre, o pessoal está em busca de patrocinadores para a Prismarte e/ou nas demais publicações. Milson Marins poderá dar mais informações detalhadas.
Serão duas temporadas com 10 a 12 capítulos cada, com 12 a 15 páginas.
SiriNerd – Como algum colaborador pode trabalhar em conjunto contigo, havendo interesse?
Jaidelson Souza – Agora, vem uma informação, em primeira mão, para vocês. Saída do forno. Já temos o resumo de Conexão Terra, a série, pronto. Serão duas temporadas com 10 a 12 capítulos cada, com 12 a 15 páginas. Estou em desenvolvimento com o roteirista inicial, Marco Marins, fazendo pesquisas e preparando todo estudo de cenário e personagens. O diálogo já vai começar a ser escrito por esses dias. A produção começará em breve. Estamos vendo colaboradores (desenhistas, arte finalistas e coloristas) para dar início a produção.
Cartase, site de financiamento coletivo, com 130 páginas, capa dura, colorida e com uma produção em nível internacional. Estamos nos preparando para fazer algo nesse nível e não menos. Um grande escritor de ficção chamado Roberto de Sousa Causo teve seu livro Glória Sombria, com o selo da Devir Livraria na capa. Então, um colaborador/empresa será muito bem vindo nesse projeto. Em breve, lançaremos o material de divulgação. Um colaborador pode ser uma gráfica ou empresa. O interesse maior, a priori, é mostrar o nosso trabalho e a nossa arte. Não pretendemos ficar ricos e lucrar. O mais importante é lançar um produto que possa ser apresentado em qualquer lugar. Colaboradores são bem vindos.
SiriNerd – Como o público pode acompanhar os seus lançamentos de quadrinhos e de seus parceiros ? Como o público tem meios de acesso às suas publicações na Internet ?
Jaidelson Souza – No site da @jaiartstudiooficial tem vários estudos e trabalhos meus.
SiriNerd – Quais as maiores dificuldades enfrentadas ao produzir suas histórias e revistas ?
Jaidelson Souza – Não só minhas [dificuldades], mas de muitos artistas. Existe uma resistência com artistas, e algumas publicações nacionais. Para funcionar aqui no Brasil, o processo, pelo que venho observando nessas décadas, é inverso. Primeiro, você faz o seu nome fora, internacionalmente, para poder vender aqui no país. Existem os que criticam, mas eu dou o maior valor aos artistas que fizeram o seu nome no mercado internacional, nada contra os nacionais. E, hoje, podem viver da sua arte. É uma profissão. Viver de quadrinhos é realidade para muitos. Sou muito fã de Ed Benes, Mike Deodato e Will Conrad. Eles tem nome para publicar aqui, mas, mesmo assim, ainda publicam em editoras independentes lá fora. O mercado aqui é descrente. É melhor, a publicação chegar aqui pronta do que investir no material nacional.
SiriNerd – Qual o trabalho seu que te deu a maior alegria e maior orgulho e porque ?
Jaidelson Souza – Conexão Terra e Mediterrâneo. Foram trabalhos onde eu estava alegre em fazer e estava no meu processo de aprendizagem.
Muitos já devem ter visto algum trabalho meu por aí mas não sabe que fui eu.
SiriNerd – Além do Grupo Pada, você participa de outros trabalhos e grupos culturais ? Comente sobre eles
Jaidelson Souza – Não. Entrei na Pada em 1986, saí em 1996. Fiquei, até 2020, sem contato com o grupo e nesse mesmo ano, voltei. Sou um artista anônimo. Muitos já devem ter visto algum trabalho meu por aí mas não sabe que fui eu. Kkkk Mas tô tranquilo. Tudo tem sua hora e momento. Acho que o momento do pessoal conhecer meu trabalho está chegando e espero que gostem. Nunca tive pressa na vida.
SiriNerd – Quais colaboradores você tem mais afinidade em produzir quadrinhos em parceria ?
Jaidelson Souza – Se você estiver falando de artistas, com certeza, são o Paulo Pires, que fez a capa da nova edição de Conexão Terra a qual eu fiz a arte final e pintei, e André Gomes, com quem estamos fazendo a finalização de uma Hq das antigas, onde eu fiz o desenho e ele, a arte final. Eu estou pintando.
SiriNerd – Como os espectadores e leitores podem enviar sugestões e críticas relacionadas aos seus trabalhos ?
Jaidelson Souza – No site da Pada Amo demais, críticas. O artista que não aceita críticas, parou de evoluir. Críticas e elogios são o resultado de que você está indo a algum lugar.
SiriNerd – Quais são os seus próximos projetos ?
Jaidelson Souza – Conexão Terra, a série, Nora e Ted e um livro de fantasia que minha esposa começou a escrever.
Ela era uma grande artista, estilista e se revelou uma excelente escritora.
SiriNerd – O que pode ser divulgado sobre os futuros projetos seus ?
Jaidelson Souza – Conexão Terra será uma série bem focada. Agora, terá uma temática séria, com política, sociedade, ficção e assuntos diversos. Essa HQ está totalmente embasada em pesquisas diversas, desde arqueologia e descobertas, até os mistérios no Universo Empírico. Nora e Ted é uma aventura de agentes secretos de Recife. Os agentes são pernambucanos, mas as aventuras se passam pelo mundo todo. É uma singela homenagem que fiz a minha esposa que faleceu em 2020, vítma de suicídio, decorrente de uma depressão. Não tenho vergonha em abordar esse assunto, pois todos os dias do ano sempre serão amarelos. Então, os personagens são Eu e minha esposa. E o livro que ela começou a escrever é fantástico. Fantasia pura. Fadas, elfos e uma narrativa leve. Ela era uma grande artista, estilista e se revelou uma excelente escritora. Cabe a mim terminar essa narrativa.
SiriNerd – Acompanhamos tantas transformações, o que você acredita sobre o futuro da Cultura Pop ?
Jaidelson Souza – A Cultura Pop tem sofrido muitas transformações nessas décadas. Umas pra melhor, outras pra nem tanto melhor. Nunca fui contra, nem serei, a mudanças e atualizações. Mas quando modifica algo clássico, eu não gosto muito. Temos muitos filmes com refilmagens, umas muito show e outras que não ficaram boas. Em quadrinhos, por exemplo, essa ideia que se tem em atualizar os personagens clássicos para a nossa realidade não tá dando muito resultado. Quer colocar a nossa realidade nos quadrinhos, criem novos personagens, mas não mexam com os clássicos. Tudo tem sua época de existir mas algumas coisas não precisam ser alteradas. Uma opinião minha, amo Duna de David Lynch. Gostei do novo? Sim. Mas ainda prefiro o primeiro. Acho que a Cultura Pop tem que ter duas vertentes, a clássica e a nova.
SiriNerd – Quais os conselhos que você pode oferecer a uma pessoa interessada em produzir quadrinhos ?
Jaidelson Souza – Perseverança. Vou falar o que aprendi nesses 30 e poucos de vivência com arte. Treinar sempre. Você vai continuar aprendendo a cada dia. Michelangelo olhava para um bloco de mármore e falava: “a escultura está aí dentro, só falta colocar ela pra fora.” Você não precisa de muita coisa, apenas de disciplina. A Internet está aí pra ajudar, tire o maior proveito dela.
Determinação. Sempre tenha em mente que precisa treinar sempre. Anatomia, luz e sombra, perspectiva e todo o resto. Treine. Repita o desenho até você aprender como funciona. Nunca esteja satisfeito. Faça o seu melhor, sempre. Eu mesmo estou voltando a treinar do zero para recuperar os anos que passei parado. Humildade. Sempre passe a frente o que você aprendeu. Você não é o melhor, você está aprendendo. Lembre que tem gente que começou como você. Influências.
Assistam muitos filmes e séries. Elas ensinam luz, sombra e cenas diversas que você pode aplicar na sua arte. Leiam quadrinhos e escolham um artista que gostem. Treinem para conseguir alcançar seu estilo. Preserve a anatomia bem colocada e todo o restante. De vez em quando, parem o filme e desenhem a cena. É um excelente exercício.
SiriNerd – Quais são as grandes obras da Cultura Pop que são referências pra você e que você indica para o público ?
Jaidelson Souza – Cara, posso dizer várias com as quais aprendi muito na arte. Filmes – Blade Runner, Aliens o Resgate, Exterminador do Futuro, Robocop, Metrópolis, Drácula de Bram Stoker, THX de George Lucas, Tropas Estelares, Star Wars, Star Trek, Galactica, A Guerra dos Mundos. São alguns que lembrei de filmes, mas tem vários.
Quadrinhos – Jose Garcia Lopez, John Buscema, John Romita Sr e filho, Moebius, Phillip Druilet, Boris Vallejo, Sorayama, Neal Adams, Mike Deodato, Ed Benes, Will Conrad e muitos artistas fantásticos das décadas passadas. Eu poderia citar vários artistas que conheci na vida.
Abraço a todos e uma dica final. Não importa a sua profissão. Faça o melhor que estiver ao seu alcance. Nem sempre vamos trabalhar com o que a gente gosta, mas façam o seu melhor. Um dia, nossa hora chega. Não desperdicem oportunidades de trabalho. Mesmo que não seja na área. Mas a vontade de ser artista sempre vai continuar em nossos corações. Abraço a todos e muito obrigado pela entrevista.
SiriNerd – Aproveitamos para agradecer ao quadrinhista, Jaidelson Souza, pela disponibilidade e pelo apoio ao Portal Sirinerd. Lamento por sua esposa. Desejamos boa sorte ao Jaidelson, a nova versão da saga Conexão Terra e seus futuros projetos, além da revista Prismarte e o Grupo Pada. Vida longa e próspera!!!
Não perca, o próximo De Frente Com o Siri. Nessa mesma Siri Hora, nesse mesmo Siri Portal.