As lembranças são pedacinhos de informações que nutrem o caminho evolutivo do homem. Sem elas, somos um bando de desajustados fadados a extinção. E por incrível que pareça, a relevância desse discurso não está apenas nos conceitos empíricos construídos aos longos dos anos, mas sim na passagem do conhecimento de coisas diárias, resoluções de pequenos problemas e até fofocas. Ou seja, a forma que seus antepassados encaravam a vida, crentes ou não em folclores populares.
“O Urso do Pó Branco”, longa da Universal Pictures, se encaixa bem nesse argumento. Reza a lenda que um policial envolvido com o crime organizado na Carolina do Norte/EUA encontrou a morte ao pular do avião, pois o seu paraquedas não abriu. No entanto, o mais curioso nessa história é o rastro de drogas que ele deixou. Antes do fatídico acidente, o criminoso arremessou muitos tabletes de cocaína pura na floresta Chattahoochee-Ocone – itens esses que nunca foram encontrados, exceto por um urso negro que morreu de overdose.
A eclética diretora Elizabeth Banks (“As Panteras”) buscou nessa lenda urbana contar uma versão ímpar, mesmo fictícia, sobre os impactos negativos da humanidade ao meio do qual está inserido. Claro que esse é apenas o pano de fundo da produção, o argumento dela notadamente é o entretenimento, o humor travestido de exageros e terror slasher – uma coragem louvável pela mistura de gêneros – mas será que tudo isso dará certo?
A princípio sim, Banks tenta se dividir entre dois mundos aqui. Aliado as boas intensões, o filme da Universal Pictures até surpreende em vários pontos, porém não propõe o “novo”.
É possível identificar a sua estrutura com falhas quase basilares. Ligeiramente desarmonizado, desfocada até, “O Urso do Pó Branco” não consegue se provar no todo. Arrancara boas risadas, risadas até nervosas, mas como cinema prospecto de arte não convence. Banks tem a impressão que precisa surpreender a todo momento o público, mas volta-e-meia se atrapalha e esquece de contar a história. E como consequência, os arcos dos protagonistas são rasos e desprovidos de interesse e empatia. Outro grave problema para a trama encontra-se no terceiro ato: curto e vazio. Logo, a classificação do filme tende a ser um pouco aquém do desejado. No entanto, são nos quesitos técnicos que repousam a qualidade da trama: Fotografia, Trilha Sonora e Som dão o tom positivo de “O Urso do Pó Branco”.
Portanto, o discurso de Elizabeth Banks no filme era quase uma ‘escolha de Sofia‘. Ela foi corajosa, mas o cinema não perdoa as opções ruins propostas. E apesar da produção possuir mais acertos que erros, ela não se explica. Se apoia no esculacho para lograr êxito, e se a intenção for tratar como um besteirol, tudo bem, mas “O Urso do Pó Branco” não sabe bem quem é, e isso é problemático.
Classificação:
Leia também, outras críticas nossas:
Com roteiro de Jimmy Warden (“A Babá: Rainha da Morte”), “O Urso do Pó Branco” tem produção: dos vencedores do Oscar, Phil Lord e Chris Miller (“Homem-Aranha no Aranhaverso”, “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas”) e Aditya Sood (“Perdido em Marte”). O longa estreia hoje (30), nos cinemas.