O cinema é um arte para ser vista. Alguns podem acrescentar que o cinema deve ser um incômodo; outros que o cinema deve ser entretenimento; e até tem uns radicais (que não deixam de ser menos legais) que defendem um cinema de afronta – que tenta distanciar o máximo o telespectador da tela. Mas todos hão de concordar que até a mais ilógica das obras precisa ter um sentido ou ser sentida por quem a assiste. E quando um filme acaba e não desenvolve um diálogo ele é um ‘filme perdido’.

“Beau Tem Medo”, produzido pela intensa A24 e distribuído em nosso país pela Diamond Films, é um fluxo de consciência desordenado. O nosso herói é óbvio, mas sua jornada é esquisita. Não que exista uma regra para ser seguida quando uma história é contada, mas existem expectativas que quando nos são prometidas devem – pelo menos – ser atingidas.

Os dois primeiros filmes do diretor já deixaram claro a sua ideologia de um cinema de fluxo que vai se desenvolvendo enquanto a narrativa cria forma na nossa frente se utilizando de signos do cinema de gênero.

O que vemos em Beau, de Joaquin Phoenix, é um conjunto de ideias que querem a todo custo ter uma lógica unitária e coesa, mas se usufrui de ferramentas de conexão (tanto com o público quanto para o roteiro) banais, e que por atirar para todos os lados acabam acertando mais de um alvo, mas que nenhum é o que realmente é fatal.

Reza a lenda que o homem precisa que o pai morra para que ele realmente “se torne homem”. Então perder a mãe – talvez – seja sinônimo de independência pois é nosso primeiro lar que está deixando de existir, nos tornando finalmente criaturas do mundo.

Beau perdeu a mãe, mas ele já era uma criatura do mundo (cão). Sua passividade com esse mundo o faz ser arrastado pela correnteza do surrealismo que Ari Aster nos força a presenciar a cada frame, tornando o filme um road movie involuntário que em nenhum momento escolhemos seguir junto com o protagonista.

Se todos os caminhos levam para o amanhecer, aqui são todas as subjetividades que nos guiam até um tribunal. Todos os mais inocentes atos se tornam indícios do pior crime que um filho único pode cometer na terra: O desprezo pela sua maternidade.

É um filme que remete aos temas de “Hereditário” e “Midsomar”. No primeiro é o medo da genética que nunca nos deixa ser quem somos, e o segundo das escolhas que podem ser cruciais para nossa vida (ou morte). Mas todos eles vemos a família sendo o catalizador do destino de seus personagens.

Não se sabe muito bem onde podemos encaixar “Beau Tem Medo” nisso tudo. É um filme que leva para outro nível a discussão sobre como a família acaba sempre voltando para nossas vidas – até mesmo quando conseguimos nos desvencilhar totalmente dela. Mas como cinema é confuso e enfadonho. É um filme que se vende como experiência, mas é uma bad trip do cansaço de ficar andando em círculos nos mesmos conceitos que nunca são verdadeiramente desenvolvidos.

Até poderia ser aconselhado que Ari Aster volte para o terror que o fez ser esse diretor coqueluche do momento, mas pensando bem esse filme é um horror. Cruzes!

 

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