One Piece: A Série / Netflix
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One Piece: A Série – 1ª Temporada (2023) | Crítica

Sempre que alguém nos envia uma história muito grande, que vai demorar muito tempo pra entender, ler ou assistir, usamos a expressão “quando sair o filme, eu assisto!”. Ou seja, eu vejo quando sair a versão reduzida, e para tal, a Netflix prontamente decidiu fazer isso com “One Piece: A Série“. A obra do mangaká Eiichiro Oda é imensa. O mangá original, lançado em dezembro de 1997, possui mais de 100 volumes e o anime já passa dos 1000 episódios.

Nos últimos anos, várias produções japonesas já foram adaptadas com os olhares do ocidente, mas poucas foram minimamente aceitas pelos fãs. A pouca compreensão do pensamento oriental ou a tentativa de “traduzir” as obras para uma linguagem ocidental, geralmente americana, resultou no fracasso de vários destes produtos. A própria Netflix já tentou abarcar os fãs fervorosos de Death Note com um filme pavoroso, pra dizer o mínimo. Outras famosas obras japonesas como Dragon Ball e mais recentemente Cavaleiros do Zodíaco também sofreram com as péssimas adaptações “Dragonball: Evolution (2009)” e Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo (2023).

Para tentar superar este histórico de fracassos, Oda estabeleceu diversas regras e exigiu que pudesse supervisionar pessoalmente cada detalhe da série live-action. Chegou a afirmar, inclusive, que a série só seria lançada quando ele estivesse satisfeito com a adaptação, o que causou diversos desentendimentos criativos entre o autor e os produtores do Tomorrow Studios e da Netflix, além de adiamentos e regravações para ajustes da produção.

A produção teve a difícil tarefa de adaptar parte da primeira saga de One Piece, a saga East Blue. No anime, a saga dissipada em mais de 50 episódios acaba condensada nos 8 episódios da primeira temporada. Oda conseguiu manter o design da produção do live-action muito similar ao visual inusitado observado no anime e consequentemente no mangá. Contudo, algumas caracterizações acabam parecendo cosplays simplificados e poderiam ser melhor elaborados.

Um ponto forte da série está no elenco. O jovem mexicano Iñaki Godoy consegue encontrar o tom correto entre o desleixe e a coragem de Monkey D. Luffy. Além disso, Mackenyu Arata, conhecido por interpretar Seiya no recente filme dos Cavaleiros do Zodíaco, também interpreta adequadamente o maior espadachim do mundo Roronoa Zoro. Completam o bando Chapéu de Palha: a belíssima 10/10 Emily Rudd como a ladra Nami, o expressivo Jacob Gibson como o mentiroso honrado Usopp, além do cozinheiro lutador Sanji, vivido pelo britânico Taz Skylar. Skylar, inclusive, treinou taekwondo arduamente nos dois anos de preparação para a série. Dedicado à realizar todas as coreagrafias de luta de seu personagem, o ator está prestes a conseguir sua primeira faixa preta na arte marcial.

Apesar de toda a supervisão de Eiichiro Oda, o roteiro ainda apresenta diversas inconsistências significativas. O grande acerto fica na manutenção da essência e das motivações de cada um dos membros do bando do Chapéu de Palha. Contudo, algumas falhas decorrentes do excesso de sintetização de algumas histórias, resultam em personagens tornando-se amigos rápido demais sem ao menos conversar diretamente. Alguns inimigos do Luffy compreendem sua determinação mesmo sem ter tanto interação com o personagem e rapidamente o reconhecem como respeitável.

Outras inconsistências aparecem devido a uma certa infantilização da história em certos momentos. O senso de perigo na ação dos piratas é bastante reduzido em comparação à obra original. Não dá pra definir se este “abrandamento” é para atingir um público mais infantil ou devido a simplificação do roteiro. Os poucos momentos em que se compreende as implicações da pirataria naquele mundo, estão demonstrados nos episódios iniciais, nas ações do palhaço Buggy, perfeitamente interpretado por Jeff Ward (“Agents of S.H.I.E.L.D.”).

Apesar de alguns percalços One Piece: A Série consegue superar o recente histórico de fracassos das adaptações de animes e mangás. Principalmente, devido aos acertos nas relações entre os personagens e suas motivações mantidas como na obra original. A adaptação mostra-se bastante honesta e respeitosa com os fãs que tanto adoram a saga de Monkey D. Luffy em seu caminho para se tornar o Rei dos Piratas. No geral, a série é bastante divertida, e está claro como a supervisão rigorosa de Eiichiro Oda foi necessária para atingir um equilíbrio entre o estilo hollywoodiano e a essência do pensamento japônes, que tanto encanta e inspira os otakus.

Classificação:
Leia também, outras críticas nossas:

Os 08 episódios da 1ª temporada de “One Piece: A Série”, que inclusive já foi renovada para uma segunda temporada, já estão disponíveis na Netflix.

Marido, Pai, Químico, Músico, Ex-Jogador de Futebol Americano e Fã de HQs, Séries e Minisséries de todos os tipos, Realities de Sobrevivência, Games clássicos, Animes e Mangás... Mas sobretudo, Cinéfilo desde pequeno!

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2 Responses

  1. 23 de setembro de 2023

    […] One Piece: A Série – 1ª Temporada (2023) | Crítica […]

  2. 25 de setembro de 2023

    […] One Piece: A Série – 1ª Temporada (2023) | Crítica […]

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