A Treta de Martin Scorsese e os Filmes de Heróis: A Verdade
Para começo de conversa, não é novidade para ninguém que o cineasta veterano Martin Scorsese já teceu criticas sobre o panorama do cinema atual. Em 2019, o diretor criticou os filmes de heróis, especificamente o MCU, que gerou comentários extremamente polarizados, com vaias e aplausos sobre a sua fala. Desde então, outros cineastas também aproveitaram para criticar a franquia MCU e o seu monopólio comercial. Recentemente, numa jornada de divulgação do seu novo filme Assassinos da Lua de Flores, Scorsese voltou a falar sobre o cinema atual. Novamente suas falas reverberaram e promoveu mais debates sobre o tema. Nesse editorial, vamos debater e entender as suas declarações, analisando e compreendendo seu pensamento.
Afinal, quem é Martin Scorsese?
Primeiramente é preciso ressaltar quem é Martin Scorsese, já que muitos podem nem sequer conhecer um dos maiores nomes do cinema. O diretor é responsável por grandes clássicos tais como Táxi Driver (1976), Os Bons Companheiros (1990), Touro Indomável (1980), Cabo do Medo (1990), O Lobo de Wall Street (2013) entre outros. Além disso, Scorsese é um profundo estudioso e crítico de cinema, tendo falado até sobre o cinema nacional. Dito isso, ele é uma figura altamente gabaritada para opinar sobre o cinema, independente se sua visão é certa ou errada.
A Primeira Declaração
A primeira vez que Scorsese falou sobre o tema foi em 2019, quando foi perguntado pela revista Empire sobre o que achava dos filmes da Marvel. O diretor então afirmou:
Eu não assisto. Eu tentei, sabe? Mas isso não é cinema. Sinceramente, o mais próximo que eu posso pensar que eles chegam, por mais bem feitos que sejam, com atores fazendo o melhor que podem nessas circunstâncias, é parque de diversões. Não é o cinema de seres humanos tentando passar experiências emocionais, psicológicas, para outro ser humano.
Acima de tudo, a sua fala inicial causou uma grande repercussão na comunidade cinéfila, com alguns concordando e outros discordando. Na afirmação, ele compara os filmes à “Parques de Diversões” e complementa que cinema de verdade traz experiências mais emocionais e psicológicas. É nítido que Scorsese tem uma visão bem definida sobre cinema onde ele não enxerga algo a mais em produções da Marvel, como se elas fossem apenas produções de entretenimento raso mesmo que ele ainda reafirma as qualidades técnicas e os profissionais competentes.
Explicando Melhor seu Ponto de Vista
Vendo que a sua declaração ganhou uma visibilidade enorme, Scorsese enviou uma carta ao The New York Times na qual ele explica melhor a sua afirmação e fala sobre os filmes de franquia dizendo:
Muitos filmes de franquia são feitos por pessoas de talento e habilidade consideráveis. Você pode ver isso na tela. O fato de que os filmes em si não me interessam é uma questão de gosto pessoal e temperamento. Eu sei que se eu fosse mais jovem, se eu tivesse me tornado adulto mais tarde, eu poderia ficar empolgado por esses filmes e talvez até quisesse fazer um. Mas eu cresci quando cresci e eu desenvolvi um gosto por filmes – do que eles eram e do que poderiam ser – que é tão longe do Universo da Marvel quanto nós na Terra estamos de Alpha Centauri.
Para mim, para os cineastas que eu aprendi a amar e respeitar, para meus amigos que começaram a fazer filmes mais ou menos na mesma época que eu comecei, cinema era sobre revelação – estética, emocional e espiritual. Era sobre os personagens – a complexidade das pessoas e suas contradições e às vezes a natureza paradoxal, a maneira que eles ferem uns aos outros, amam uns aos outros e de repente tem que encarar a si mesmos.
Nessa nova declaração, Scorsese explica bem detalhadamente a sua opinião de forma bastante respeitosa ressaltando a sua geração e as suas influências, visto que na sua época não existiam filmes blockbusters ou filmes de heróis, algo que só veio a partir dos anos 70. Antes disso, não havia essa classificação, ou seja, Scorsese aprendeu cinema de uma forma bem mais visceral e com outras referências. Ele ainda frisa que os filmes não o interessam por uma questão de gosto pessoal e mais uma vez diz que há pessoas de talento envolvidas nesses filmes. Ainda por cima, o cineasta foi sincero ao dizer que se fosse mais jovem teria interesses nas obras, tendo uma leitura cirúrgica sobre o cinema.
“Precisamos Salvar o Cinema!”
Ultimamente, Scorsese novamente voltou ao holofotes quando foi perguntado sobre os filmes de franquias e de heróis. O diretor, que está no processo de divulgação de seu novo filme Assassinos da Lua de Flores, que estreia em 19 de outubro debateu, de uma forma mais incisiva sobre o assunto:
O perigo é o que isso está causando à nossa cultura. Porque agora haverá gerações que pensarão que os filmes são apenas isso – isso é o que os filmes são. Eles já pensam isso. O que significa que temos que lutar mais. E tem que vir do nível popular. Tem que vir dos próprios cineastas. E você terá, você sabe, os irmãos Safdie, e você terá Christopher Nolan, entende? Acerte-os de todos os lados e não desista. Vamos ver do que você é capaz. Vá lá e faça. Vá reinventar. Não reclame. Mas é verdade, porque temos que salvar o cinema.”
Nesse tópico, Scorsese se refere mais sobre o monopólio desse gênero, alegando que a nova geração terá isso como referência de cinema pela quantidade exorbitante de filmes assim sendo lançados anualmente. Ele ainda cita cineastas independentes, numa mensagem de reforçar o cinema independentes e autorais. O fato é que Hollywood passa por um processo de recuperação após a pandemia e investir nesse tipo de produção promove um retorno mais garantido por ser um produto que o público consome bastante. Junto com isso, o elemento nostalgia atrai muito as atenções do público, por gerar um sentimento de aconchego e satisfação. Contudo, o cinema é muito mais que filmes de franquias e super-heróis, ele permite diversas manifestações artísticas e as produções mais independentes merecem o seu espaço.
No fim, O QUE É CINEMA?
Refletindo e pensando sobre os pontos levantados nesse editorial, o cinema sempre vai ser uma arte subjetiva, onde cada um vai ter a sua própria perspectiva sobre o tema. É inegável que o MCU revolucionou o cinema atual, mas ele não pode ser a referência única de cinema assim como outras franquias consolidadas. É preciso pensar na qualidade e não na quantidade, além de buscar diversificar. Na opinião do autor desse post, o cinema sempre vai representar o momento atual da história. Filmes bons e ruins sempre irão existir e coexistir, cabe ao público fazer o julgamento sobre o que é bom para ele ou não. Em suma, você é seu próprio juiz. Você não tem obrigação de concordar com Scorsese, mas entender a sua visão e saber que não é qualquer um que está falando. O objetivo desse Editorial é mostrar uma análise e saber interpretar uma declaração.
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